quarta-feira, 14 de abril de 2010

Esperança ou ilusão?








Os meus passos arrastam-se pelos grãos de areia pesados, plantados em saudade! Caminhando e ouvindo o mar revoltado nesta praia. O céu que era azul com tons de harmonia e o sol que brilhava aos poucos, agora pintara-se de negro semeando na minha mente um turbilhão de desejos, talvez impossíveis de se concretizarem. Sozinha tento, sintonizar o tempo, os passos desenhados na areia, pegadas que não se apagam ali! A minha pobre alma, sofrida e magoada que procura encontrar um outro sentimento, sem que este seja de novo a dor. Sento-me na areia ainda húmida, sinto um refresco…suspiro vezes sem conta, cada grão de areia é como se tivesse um coração que estremecesse, junto da agressividade do mar. Desejando poder abraçar quem não abracei enquanto cá permanecia, revoltada com as oportunidades que a vida me deu e eu fugi delas, querer corrigir aquilo que já está feito… imaginar-me feliz no futuro, ou não, como o poderei saber? Qual a estrada que devo seguir? Minhas mãos deslizam e libertam a raiva, passeando-as pelo relevo das lágrimas que derretem o brilho dos meus olhos. Arrasto-me pelo tempo para poder sentir só mais um pouco esta noite de solidão, esperando encontrar algumas forças para partir, para sair deste pais cheio de lembranças e recordações antigas que me assombram os meus dias e as minhas noites!
Na imensa tristeza de matar os sorrisos que semeei, como o sol que na tela pintada tanto revela o brilho das cores como as retira deixando um branco pesado em tons de negro como o segredo agora revelado e demasiado doloroso para ser ouvido.
Como o apodrecer de uma esperança que já não tenho forças para alcançar. O desgosto e a ansiedade falam em tons de silêncio para ninguém escutar... para ninguém amar nem mesmo a mim. Perdida, numa guerra infinita, revelada de algumas vitórias não conquistadas, continuam nos restantes dias como uma tortura permanente, para quem já soube e agora não sabe o que sente.A chuva escorre e arrasta as flores mas nunca as memoria por mim vividas num mundo de desprezo e sem amor. Mas seja o que for que esteja a minha espera, irei lutar, pois a vida já me fez esgravatar, preparou me para o amanha… e eu vou lutar para que este seja melhor que o de hoje!


segunda-feira, 1 de março de 2010

A viagem da vida


A vida está destinada a: nascermos, crescermos, envelhecermos e morrermos… mesmo sabendo que na realidade á muitos que nascem e que por vezes nem tem tempo de crescer, muito menos envelhecer.
A comparo a vida a um comboio! A nossa viagem será repleta de embarques e desembarques, salpicado por acidentes, surpresas agradáveis e desagradáveis, em zonas mais húmidas o comboio reduz a velocidade, nas mais calmas passa rápido de mais, sonhos, fantasias, esperas e despedidas teremos de ultrapassar.
Ao longo do caminho encontraremos vários tipos de pessoas, umas que nos acompanharam sempre ao longo desta viagem (nossos pais), embora algum dia iram ficar em alguma estação, deixando-nos órfãos do carinho, amor, amizade e a companhia que ninguém substituirá, tal como nós filhos poderemos tomar a decisão de deixar aquela carruagem e partir para outra, ou sermos obrigados a sair na estação que nos espera antes deles, mas nunca os esquecendo.
Apresar disso, nada impedirá de encontrarmos outras pessoas nessa carruagem, que se tornarão especiais do nosso coração, deixando uma marca, quando ao fim da sua estação chegada, ou na possível decisão de mudança de carruagem.
Tal como os pássaros. Enquanto temos umas migalhas de pão na palma da nossa mão eles ficam, mas quando esta já está vazia, eles vão procurar em outro lugar o que nós não lhe podemos dar…abandonando-nos.
Outras assim que entraram nesta carruagem só tiveram tristezas, perdendo tudo, sobrando simplesmente a viagem até a estação que lhe é destinada.
Alguns também abandonam a nossa carruagem, passando para outra em pezinhos de lã, não avisando, nem dando um aviso prévio.
A cada passo que damos durante a nossa curta ou longa viagem, podemos conhecer pessoas que também a ocupam, mas só teremos hipótese de conhecer as que tem algo para nos dar, ou ensinar, tal como o destino nos prepara.
O que nos resta e tentar fazer esta viagem da melhor maneira possível… tentando relacionarmo-nos bem com todos os passageiros, procurando em cada um o melhor. Tendo sempre em mente que ao longo deste trajecto eles puderam sair de repente.
O grande mistério desta viagem é nunca sabermos a hora, o dia, a estação que iremos sair, nem onde os nossos amigos ficarão. Saíram primeiro que eu? Ou sairei eu entes deles?
Se um dia tiver filhos, espero que a minha estação seja primeiro que a deles, e que a viagem deles seja prolongada e repleta de paisagens, sonhos, fantasias e aprendizagens, ficando sempre na esperança de um dia os ver chegar de bagagens na mão, aquelas que não tinham quando comigo embarcaram, é sinal que me poderei mentalizar que colaborei para que a bagagem deles crescesse, tal como os ajudei a evoluir a eles, á sua sabedoria e inteligência.
Esforçar-me-ei para que no momento que desembarcar, aquele lugar que deixei vazio, traga a saudade aos que ainda continuam a sua viagem.
“ A Viagem da Vida”, não é uma forma de conquistar a felicidade, mas de reconhecer que ela já está dentro de nós. Desde sempre!
A verdade é que raramente sabemos reconhecê-la, talvez porque procuramos uma prova do nosso valor. Valor esse, fora de nós, tanto socialmente, como no afecto incondicional das pessoas que nos são mais próximas.
Durante esta nossa, tão, curta viagem, não aprendemos a evitar as dificuldades, mas a dar-lhes sentido e luz, estando cientes de que tanto os aspectos positivos como negativos da vida são como a matemática, para conhecer verdades mais profundas sobre nós próprios, terá de haver regras, lógica e teremos de aprender a pôr em prática.
“ Nos sofrimentos, nas trevas
que envolvem o coração e a mente,
esconde-se o sentido da vida.
E quanto mais negra for a tua noite,
tanto mais serás, ao romper da aurora, fonte de vida.”
A vida é uma viagem no espaço e no tempo. Mas com o tempo, a viagem tende a abrandar e então viajar torna-se uma fuga à realidade do dia-a-dia. Uma fuga e uma encenação. Como o actor que veste no palco as mais diversas personagens, também o viajante ao chegar ao lugar onde ninguém o conhece pode assumir o papel que preferir: nómada, aventureiro, foragido, boémio nocturno ou mero coleccionador de imagens... mas passado de algum tempo será descoberto, a realidade que está por trás da personagem.
"“A Felicidade está nos pequenos detalhes da vida no abraço de um amigo, no beijo de um ente querido, no sol que aquece a pele, na água chuveiro depois de um dia de fadiga e muitos passam a vida inteira correndo atrás da verdadeira felicidade”

Lembra-te que esta viagem tem de ser simplesmente vivida!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

a dor que me sufoca...

No meu peito a dor diária transporto. Como estas me fazem sofrer!

Por minutos tem um alívio, mas estes passam a correr, quase não chega para esquecer…
Um simples gesto, um silêncio, uma palavra… traz novamente as lembranças mais tristes, que completam os meus dias e as noites frias.
Lentamente…enterra-me…se a dor fizesse ferida visível, estaria em sangue…alias, já não teria coração!
A saudade escurece-me, a tristeza, retira-me a vontade de viver, o desprezo, envolve a vontade de desaparecer.
A minha volta gira um furacão, que me leva na sua interminável força…suga-me….
Por mais que eu me tente agarrar a algo e suportar a sua força, é impossível! Nada e suficiente.
A saudade por uma criança, o desprezo dos meus pais e a falta de quem já não esta presente em mim e me faz tanta falta!
As paredes do meu mundo, parecem-se desmoronar em toda a volta, o meu coração e alma estão fracos, a cada dia que passa.
Não e nenhum conto de fadas, pelo contrario… em cada manha que me levanto, é na luta de mais um dia que o transformo e para que nunca mais seja relembrado.
Diz-se que com o tempo tudo na vida apagará como a água que cobre a areia do mar, mas eu acho que isso não passa de mais um lindo provérbio, que os nossos antepassados diziam, pois para mim cada dia me traz mais revolta, mas sofrimento e mais saudade.
A dor continua a abraçar o meu peito e a sufocar a minha alma, é a minha alimentação ontem, hoje e será a de amanha…sentada, num calhau do rio, olho para as horas, olho para tudo o que me rodeia, ouvindo o som da agua, tentando pensar em algo mais… mesmo sabendo que esta dor não sairá já mais!

as oportunidades!

As oportunidades que a vida nos oferece, são como as brisas de uma noite quente de Verão, vem e vão….sem nunca se cansarem. Precisamos de aproveitar cada minuto das suas raras presenças, para o nosso dia de amanha…para o futuro!

Quantas vezes elas chegam, vemos, e conscientemente não fazemos nada…simplesmente duvidamos de uma facilidade que se atravessa na nossa estrada.
Por culpa das nossas inseguranças, das nossas barreiras emocionais, dos nossos medos e da nossa falta de Fé, paralisamos as nossas pernas e ali mesmo paramos, tal como um burro que não sei daquela estaca, só porque ta preso por uma corda fina.
No meio de um momento de escolha, a nossa cabeça faz uma autentica batalha, um lado impede por completo, o outro mete as suas duvidas…”e se fosse? E se não conseguir? E se?”.
As desculpas são quase sempre as mais evidentes. Raros são aqueles que se pegam e seguem em frente ate ao fim, outros começam, mas fogem a meio caminho, e por fim a aqueles que decidem ir em outra direcção.
Quando as oportunidades nos batem a porta, antes de começarem a por dúvidas, acredite mesmo em si primeiro. Olha para o céu, e espere que o teu coração te de a resposta certa, e ai sim! Segue a tua estrada! De certo que a escolha que fizeste foi a mais correcta.
Não esperes receber todas as soluções de uma só vez, as flores também nascem, cada uma a seu tempo e existem frutos para todas as estações.
Olha, não só por ti, mas também pelo teu futuro. Planta tu mesmo a tua estrada, com coragem e motivação, não te esqueças que quem lá vai caminhar és tu!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

sofro...

Húmidas são as minhas lágrimas,
Ainda perdidas no chão
Escondidas entre as pedras enigmas
Partindo em pedacinhos o meu coração.

Tanto mar me faz sonhar,
Tanta dor preenche meu coração
Tantos momentos a relembrar
Enfrentando cada dia a solidão.

A vida um dia me sussurrou
Muitas encruzilhadas hás-de encontrar
Ela em nada me enganou
Ainda muita lágrima terei de chorar

Agora na fase da adolescência,
Com um espírito aventureiro
Atravesso obstáculos na inocência
Tendo sempre o meu aliado coração como parceiro.

O medo faz-me tremer,
A felicidade assusta-me ao chegar,
Mas tenho de ganhar força e vencer,
E esses medos tenho de ultrapassar.

A vida não é um jardim de flores,
Nem um mar para sonhar
De vez em quando passam uns odores,
Que nos deixam muito para pensar.

Nesta vida há muito a aprender,
Ela não deixa a paz chegar,
Tudo acontece num amanhecer,
Sobre o vento que se espalha no ar.

A amigos que querem o nosso bem,
Existem pessoas que não nos podem ver,
O mundo de tudo um pouco tem,
E quem nós amamos, acabamos por perder.

A morte é a maior dor…
Temos de fazer uma travessia bem alta.
Quando perdemos aquela pessoa que nos dava amor,
É que vemos o quanto ela nos faz falta.

Preciso entender, seguir e dizer…
Libertar o coração, já farto de sofrer,
Mesmo estando bem, ele sente
Que ainda há muito na vida a perder.

Cansado de chorar por dentro
As vezes feliz, muitas vezes carente,
Mesmo sabendo que está no centro
Ele continua sempre assim…doente!

Não sei como o aliviar,
Parece que ele torna tudo impossível
Muito me faz ele chorar,
E terrível e imprevisível.

Sempre que consigo uma tentativa
Para estar bem e ele na sua graça
Existe sempre uma despedida
E começa novamente a desgraça.

Cada amanhecer é diferente
A chuva que cai refresca a alma
Uma roda de samba faz dançar
A vida tem de ser levada com calma.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O nosso por-de-sol...

Inesquecivel aquele por do sol....
A emoção do teu olhar a cruzar o meu....
Aquela canção... Inesquecivel!!!
Um friozinho pousava na minha pele carente,
Ao sentir a aproximação do teu calor...
Aquele aroma.... Os teus segredos....
Os teus medos...!
A ponte entre o meu mundo e o teu....
Naquela indecifrável madrugada...
Era lua cheia...que prateava aquela noite de Verão...
A brisa que me acariciava...a maresia que me humedecia meu corpo...
Mãos dadas...Abraços...nossos laços...
O primeiro beijo...
Aquele desejo...
O teu sabor....
Todas as historias.... porções de magias....incriveis!!!
Em casa canto...um encanto...
Nosso amor impossivel....
mas para sempre inesquecivel!!!
Absorvo a tua pura essência....
Atravesso o pântano do amor...
Enxarco-me em teu suor....
Atada em ti....a tua energia....
abastece-me de prazer!!!!!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Biografia ficcionada

Olhou para o espelho. A imagem que este reflectia era de uma mulher de 70 anos, de olhar angustiado, massacrado pelas mudanças incertas da vida. O rosto encontrava-se magro, rugoso, de peles descaídas, como as pontas de um “choram envelhecido”, marcado pelos traços que o destino lhe deu.


O seu raro cabelo, oleoso, já não era suficiente para cobrir a cabeça. As suas mãos ásperas, calejadas e secas do duro trabalho do campo que a fatigava todos os dias, não disfarçavam os anos os anos que já tinham passado por si. As suas veias faziam relevo nas costas das suas mãos doridas.

Aquela figura trazia-me a visão de uma árvore que morre lentamente sem água. O seu aspecto era sombrio, era benevolente, triste, gentil, parada, mas nobre.

As roupas que ela usava eram simples: umas calças de bombazina repletas de pequenos buracos, e uma camisa abotoada até haver botões. Por cima se compunha com uma bata comprida, com dois laços que traçavam no interior, atavam atrás das suas costas.
Suas pernas já enferrujadas e pés pesados, deixavam-lhe um andar coxo e enfraquecido.
Não era um rosto jovem e belo que há muitos anos a encantava, mas tinha algo de especial. O seu rosto contava histórias! Cada sulco, cada traço vincado no seu rosto trazia-lhe a memória os momentos bons e maus que tinha vivido, os rostos jovens e lisos daqueles que tinham partido cedo demais, os rostos de quem amara e de quem a amara, dos, que já tinham partido, os rostos daqueles com quem se desencontrara ao longo da grande viagem da sua Vida.
Vivia numa localidade rural, perdida no meio da serra, no interior do país, onde a, luz e a água canalizada só chegaram um tempo depois. Todos os dias aquela pobre senhora atravessava a serra dezenas de vezes, para trazer a água que passava rente aos calhaus que enfeitavam o rio. Com o cântaro as costas, parecia nunca se cansar…
Provinha de uma família humilde, onde a grande felicidade era conseguirem todos terem um prato de comida na mesa para o sustento dos seus três filhos. Todos os dias saía de sua casa para colher umas pinhas e uns troncos. Acendia a sua fogueira e ali ficava horas sem fim a olhar para cada chama, desabafando o seu dia ao sabor do calor que esta lhe transmitia. Naquela fúria das chamas, pensava na solidão da sua vida, sem televisão, sem rádio, sem uma única notícia. Para ela, o mundo era aquela serra, os seus filhos e o seu marido que viajava para ganhar o pão para a casa e que simplesmente a visitava uma, duas vezes por mês. Era isso o seu mundo…o seu pequeno mundinho, que parecia do tamanho de uma caixa de fósforos.
A mobília era reduzida, tosca e defeituosa, feita á mão pelo seu pai falecido. Pastor de profissão e no pouco tempo livre, entretinha-se a trabalhar a madeira para oferecer aos seus filhos. As roupas destes eram poucas e tinham sido costuradas pela mãe. Cheias de remendos, um pano de cor retorcido com linha de outra cor. Eram lavadas vezes sem conta, para as poderem usar sem o odor do suor.
O homem com quem casou, era o seu único amigo de infância, mas este cansado de se sentir preso pelas montanhas da serra que cercavam a paisagem e que escurecia os seus dias, decidiu tornar-se vendedor e percorrer o mundo. Ela não o podia acompanhar, o que lhe trazia muitas horas de solidão. Mas um dia conseguiu sair das “grades” da montanha e partir para uma vila mais civilizada. Um novo mundo rodeou os seus olhos e a sua mente.

Porem secretamente na sua alma sentia saudades das montanhas, das terras que cultivara durante anos, das suas couves tenras que apanhava ao cair do orvalho, da solidão e da serenidade da serra onde viveu a sua juventude e permaneceu ainda no inicio da sua velhice. Sentia saudades de se sentar debaixo de um pinheiro manso ouvindo o uivar daqueles cães perdidos serra abaixo, serra acima, do mungir das vacas que davam o leite para sustento dos seus filhos, de passar horas sentada no chão seco da serra a cortar a lã das sua ovelhas, a ver o sol a esconder-se por detrás dos ramos verdes e luzidios do orvalho, de pegar na foice e cortar a erva para alimentação das suas vacas prenhas que não podiam sair para a pastagem, de pegar no ansinho para trazer o mato para a cama dos seus animais e crias, sem que tivesse de se preocupar se aparecia alguém ou não, pois ali não via vivalma. Só se atrevia quem nascera naqueles caminhos. Ninguém conhecia aquele mundo de longa distancia…ninguém conhecia o mundo desta arrastada senhora!

A sua nova vivencia naquela vila, provocara-lhe um desaforo de saudades…pois estava neste momento a presenciar um novo mundo…uma nova vida….uma fantasia que se estendia, alargando de mais as suas ideias… e as saudades do seu alto da serra.
A diferença de idades dos seus filhos não era muita. O mais novo, era o António, tinha 9 anos, o Manuel tinha 11 e a Alice estava perto dos 14. A mudança também os comoveu, mas estavam os três felicíssimos, pois na serra não tinham ninguém o que nunca lhes foi dada a oportunidade de saberem o que era uma escola, nem um amiguinho. Nem mesmo aquela senhora, mãe daquelas 3 crianças que agora se via obrigada a comprar uma lista de material escolar para ensino dos seus filhos. Há muitos anos atrás ela tinha feito o 4º ano de escolaridade, mas na altura não havia canetas nem lápis, escreviam com uma pena molhada num frasquinho de tinta preta, desenhando as letras redondinhas numa “ardósia”, que por vezes chegavam perto da professora para apresentar os seus trabalho e nem uma letra já tinham, acabando por levar desenas de reguadas e puxões de cabelo.

Tal como os sapatos, era algo que ela nunca vira, nem nunca lhes tinha feito falta. Estivesse sol, chuva, neve, ou gelada, os pés estavam de tal maneira calejados que não sentiam. Tudo o que ela começara a viver nesta pequena vila era uma novidade, uma coisa fora do normal, que lhe apertara o coração, apesar de estar feliz estava deprimente, e a sua cabeça não se erguia. A solidão cobria-a de cinzento…
Passados três meses da sua mudança sentiu-se mal, deitada na cama, rodeada pelos seus entes queridos que dela se despediam lacrimosamente, pedindo a deus forças para ela, o seu rosto idoso, cansado, repousava sereno. Fechou os seus olhos, duas lágrimas encharcaram os cantos, ofuscando o seu luzir. Apertou as mãos dos seus filhos, sorriu…e ao seu último suspiro, morreu feliz…na paz e de consciência tranquila.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

sofrimento de criança...



Universo sem ternura,
Olha-me nos olhos com serenidade,
A verdade é nua e crua…
O que desperta a maior infelicidade…

Uma lágrima prestes a cair,
Dos seus olhos encovados,
Um sorriso forçado sai dos lábios,
Pela dor estão selados,
É uma criança sem amor!

No seu olhar infeliz me pergunta:
Posso ser feliz?
Posso ter um brinquedo para brincar?
Posso ter amor para sorrir?
Posso ter uma vida de criança?
Será que algum dia vou ter força para sonhar?
Será que algum dia vou ter regras para respeitar?
Será que um coração me podem dividir?
Para um dia amor e carinho também repartir?


Vivo na ignorância...Ignorante da felicidade de criança,
Ignorante do carinho que nunca senti,
Ignorante de um sorriso espelhante...
Simplesmente, ignorante… ignorante!

    Olhar que perfura a natureza,
    Olhos massacrados, de dor
     Lágrimas já há muito presas,
     Iluminadas pelo desprezo,
     De um mundo que não tem cor!

 Tu és a criança que mais amo...
A criança que me faz falta....
Que me aquece a alma...
Que me faz sorrir ao som de uma gargalhada...
Que me retira uma lágrima com o próprio olhar...
Tu es a criança que preenche o meu coração... de dor!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O meu pedido de natal



O Natal aproxima-se…
Nunca fiz um pedido de natal, até porque para mim isso antes não existia...
Antigamente o Natal era como um dia de trabalho normal. Trabalhava no campo todo o dia, á noite já cansada, sentava me lareira até há hora de ir para a cama descansar. Assim como a passagem de ano, nunca ouvia um foguete!
Sei que o Pai-Natal não existe, mas mesmo assim eu quero fazer uns pedidos nesta época natalícia e na despedida para um novo ano que vai dar entrada.
Então espero que este Natal me traga os amigos que perdi;
Vou pedir um sorriso nos olhos de cada criança;
Amor na vida de cada pessoa para sorrir ao longo da sua estrada;
Justiça e paz para o mundo;
Que a esperança ilumine a vida de todos nós;

Que as nossas fantasias e sonhos sejam finalmente concretizados;
Que este frio gele maldades;
Que o calor das lareiras aqueçam os corações;
Que todos olhem para a vida e tirem o máximo de proveito a cada segundo…
Neste Natal queria plantar uma árvore no meu coração,
Com o nome dos amigos que me marcaram ao longo da vida,
Para que jamais sejam esquecidos,
E para que saibam que estão no meu coração…
Natal devia de ser todos os dias, nos nossos corações
E nas nossas mentes…
A harmonia Natalícia não está nos presentes,
Mas sim na compreensão e na ajuda do próximo.
Não se esqueçam que alguém já vos ajudou…
Vamos todos dar as mãos…para sermos todos irmãos!
Assim o mundo poderá tornar-se mais humilde!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A solidão

Estava escuro…sentia-me na total solidão de uma noite fria...o meu coração empurrava á força lágrimas de dor, lágrimas de magoa, lágrimas de desespero, lágrimas de fraqueza, ele não consegue aguentar tanto tempo neste terror... pobrezinho….

Sozinha…só a dor me acompanhava, só a revolta do mar eu ouvia, só a lua eu via já a ser ofuscada pela escuridão da noite.
Sentada em cima da areia macia, agarrava uma mão-cheia de areia, apertava com toda a força, a medida que as lágrimas me saiam dos olhos de forma expulsiva.
Não sentia o meu corpo, não o queria sentir de maneira alguma, desejava que dali não pudesse sair por meu pé…
Parada e atenta a cada movimento de cada onda furiosa, reflectiam imagens, palavras, momentos do passado que me deixaram as piores marcas até hoje, até amanha, até sempre!
Na cabeça vários pensamentos se formavam, mas a nenhum eu dava uma conclusão…a única conclusão que tirava é que tudo o que neste momento me faz falta eu não tenho… pessoas da família que perdi sem me poder ao menos despedir, amigos que perdi por erro ou porque tinha de perder, parece que Deus me tirou todas as riquezas que tinha há uns anos atrás, e hoje…estou sozinha… só a saudade rodeia, despedaçando me aquele canto onde sempre os guardei, os guardo e os guardarei para todo sempre com muita dor e saudade.
Porque é que só sentimos falta das pessoas quando já não as temos presentes? Aliás…nós sentimos sempre falta delas, não damos é valor ao quão de bom elas são para nós.
Não sou menina mimada, mas amo os meus pais, mesmo depois de tudo o que já me fizeram, do que me fizeram lutar, no que me fizeram arriscar, nos abandonos que me deram…e mesmo sabendo que não gostam de mim como filha, sofro com medo de um dia deixar de ver o brilho dos olhos deles.
Pois o sorriso, o olhar, o mal tratarem-me vai me fazer falta no dia que eu os vir de olhos fechados. Pois a vivencia deles cá é o meu sorriso todos os dias ao acordar!
Por vezes penso que sou diferente de todas as adolescentes da minha idade, que saem á noite, que bebem, que riem há gargalhada, que se juntam com dezenas de pessoa da mesma idade, que se divertem e que nunca tem falta de nada.
Será que nunca chorem? Será que nada na vida as inquieta? Será que já tiveram um dia a dor de consciência e bateram com a cabeça nas paredes para sentir outra dor sem ser essa? Será que já se apaixonaram por algo impossível? Será que já amaram alguém que nunca as amou?
Será?
Não sei o que tanto me afecta, só sei que a dor percorre os meus dias, gela o meu sangue, me tira a vontade de sorrir…estou saturada… o que me faz criar por vezes o desejo de fechar os olhos e nunca…jamais…sentir alguma coisa!
A vida é tão dura…a vida magoa sem dó….a vida mata-me lentamente!